sábado, 13 de setembro de 2008

Acorda Natal, ainda há tempo...

Ha-ha-haverá segundo turno?
Depois da primeira rodada de pesquisas, políticos, institutos, candidatos e especialistas se dividem sobre a realização da segunda votação na capital.

por DIÓGENES DANTAS

Se Natal fosse Sucupira, de O Bem-amado, terra do Odorico Paraguassu, talvez fosse o caso de perguntar ao Dirceu Borboleta, profundo conhecedor dos lepidópteros: haverá segundo turno em Natal? A primeira rodada de pesquisas eleitorais após o início da propaganda na TV e no rádio deixou a dúvida no eleitor natalense. No calor da paixão por esse ou aquele candidato, há quem arrisque uma aposta. Mas não dá para ter certeza.

Nesse começo de setembro, Micarla de Sousa (PV) ainda mantém boa dianteira e Fátima Bezerra (PT) demonstra fôlego numa eleição polarizada. Os "nanicos" - Miguel Mossoró (PTC), Wober Júnior (PPS), Joanilson de Paula Rego (PSDC), Pedro Quithé (PSL), Dário Barbosa (PSTU) e Sandro Pimentel (PSol) - correm atrás do prejuízo.

Quando o assunto é segundo turno, as opiniões se dividem. Até entre os responsáveis pelos institutos de pesquisas. Paulo de Tarso Teixeira, diretor da Consult, mostra-se cauteloso no prognóstico: "Não dá para afirmar agora se haverá ou não segundo turno. As pesquisas que saíram no último fim de semana foram as primeiras depois do começo do programa eleitoral, e mostraram o efeito inicial da propaganda gratuita, que é muito forte. É como se estivéssemos saindo do marco zero: não dá pra apontar uma tendência de queda ou de subida de qualquer candidato. Isso só vai acontecer com a sistematização das pesquisas pós-programa".

Já Keila Brandão, do instituto Start, é mais decisiva: "Sim, há um cenário de segundo turno. Se analisarmos apenas os números da última pesquisa, o segundo turno não aconteceria, mas como há uma tendência de crescimento da candidata Fátima Bezerra, e a candidata Micarla manteve uma curva estacionada (o declínio ficou dentro da margem de erro), acredito que haverá segundo turno. A mudança se deve ao início da propaganda eleitoral".

O cientista político João Emanuel Evangelista concorda com Keila Brandão: "O horário eleitoral mudou a configuração das candidatas. As últimas pesquisas convergem para um crescimento de Fátima e uma queda ou estabilização de Micarla. A dúvida é essa: se Micarla irá crescer ou se estabilizar na sua posição. O quadro agora mostra uma possibilidade grande de 2° turno", disse.

Na opinião de Evangelista, o crescimento de Fátima Bezerra tem um efeito multiplicador sobre os envolvidos na campanha, criando um "clima" que acaba contagiando o eleitor. "Antes do programa, havia uma incoerência: muitos eleitores de Micarla avaliavam bem os governos Lula, Wilma e Carlos Eduardo. Depois que o horário eleitoral começou, essas pessoas estão entendendo quem representa esses governos com mais clareza. Há, por isso, uma tendência de transferência de votos de Micarla para Fátima Bezerra", avalia o professor da UFRN.

Não é o que acha um dos principais aliados de Micarla, o presidente da Assembléia Legislativa Robinson Faria (PMN): "Eu não acredito no segundo turno. Eu acho que não houve queda de Micarla, pois o Ibope confirmou que ela se mantém com os 50%, desde o início do processo eleitoral. Não quero levantar nenhuma suspeita em relação aos institutos locais de pesquisas, mas os números divulgados não batem com o que eu vejo nas ruas".

Na contramão de Robinson Faria vai o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB), apoiador de Fátima: "Hoje eu acredito verdadeiramente em um segundo turno. A propaganda eleitoral realmente permitiu o crescimento de Fátima, pois os eleitores puderam comparar e conhecer todos os outros candidatos". Em entrevista recente ao Jornal 96, o senador havia declarado que se a petista não subisse nas pesquisas até 15 de setembro "estaria vendo fantasma ao meio-dia".

Segundo 'round'

De acordo com a Lei Eleitoral, só haverá segundo turno nos municípios com mais de 200 mil eleitores, onde nenhum candidato a prefeito tenha alcançado a maioria absoluta dos votos na primeira votação, não computados os em branco e os nulos. No Rio Grande do Norte, apenas a capital enquadra-se na exigência do código.

Afora Micarla de Sousa, todos os candidatos a prefeito de Natal apostam no segundo turno. Uns alimentam o sonho da virada e de uma possível vitória, como é o caso de Fátima Bezerra. Outros, pelo desejo de influenciar o jogo das coligações na reta final da campanha ou, talvez, de cacifar-se para futuros governos ou eleições.

À boca miúda, comenta-se que as maiores chances de Micarla de Sousa estão numa vitória em primeiro turno. Um eventual segundo 'round' poderia, em tese, favorecer Fátima Bezerra, possibilitando-lhe mais tempo para diminuir a rejeição histórica e crescer na intenção de voto do eleitor. Ao observar o resultado dos últimos pleitos, nos deparamos com outra realidade.

Em 2004, Carlos Eduardo (PSB) bateu Luiz Almir nos dois turnos. Na primeira etapa, o prefeito obteve 137,6 mil votos contra 112,4 mil de Luiz Almir (PSDB). No segundo turno, Carlos venceu com 192,5 mil votos. O tucano chegou perto, mas perdeu com 178,2 mil votos.

Nas duas últimas eleições para o Governo, Wilma de Faria teve de enfrentar seus adversários nos dois turnos. E venceu em todos. Em 2002, ela bateu Fernando Freire no primeiro turno por 492,7 mil votos a 404,8 mil; e no segundo por 820,5 mil a 523,6 mil. Já em 2006, a governadora passou um sufoco maior, mas venceu Garibaldi Filho (PMDB), atual aliado, nas duas etapas. Na primeira, o placar foi 764 mil votos a 749 mil. E no segundo turno, Wilma obteve 824,1 mil votos contra 749,1 mil conquistados pelo peemedebista.

Como vê-se, segundo turno não é garantia de vitória para nenhum candidato em desvantagem na corrida eleitoral. Para virar o jogo da eleição, Fátima, Wober, Miguel Mossoró, Quithé, Sandro, Dário e Joanilson vão precisar de uma 'rede' para pegar Borboleta. Em Sucupira, o Dirceu Borboleta resolveria o problema a mando de Odorico Paraguassu. Mas isso é outra novela.



Pesquisas eleitorais divulgadas até o final de agosto


Start/JH
Julho Agosto

Micarla de Sousa........................... 47,5% 46,2%
Fátima Bezerra............................. 19,4% 29,2%
Miguel Mossoró............................. 4,8% 4,1%
Wober Júnior............................... 1,8% 4,6%
Dário Barbosa.............................. 0,9% 0,6%
Sandro Pimental............................ 1,0% 0,8%
Pedro Quithé............................... 0,0% 0,0%
Joanilson de Paula......................... 2% 1,4%


Consult/Tribuna do Norte

Julho Agosto
Micarla de Sousa 49,7% 39,5%
Fátima Bezerra 17,2% 27,5%
Miguel Mossoró 3,4% 3%
Wober Júnior 1,7% 3,1%
Dário Barbosa 0,2% 0,4%
Sandro Pimentel 0,4% 0,4%
Pedro Quithé 0,0% 0,1%
Joanilson de Paula 1,5% 1,2%


Ibope/SIM TV Ibope/InterTV

Julho Agosto
Micarla de Sousa 54% 50%
Fátima Bezerra 17% 25%
Miguel Mossoró 4% 5%
Wober Júnior 2% 2%
Dário Barbosa 0% 1%
Sandro Pimentel 0% 1%
Pedro Quithé 0% 1%
Joanilson de Paula 1% 2%

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