MAPUTO (MOÇAMBIQUE) – Lula chega hoje para uma visita de dois dias, mas parece que é a Madonna para dois megaconcertos. Várias pessoas com quem conversei, e que me identificam imediatamente como brasileiro pelo sotaque, perguntam sobre a vinda do presidente.
Ontem à noite tive de voltar ao aeroporto para pegar minha mala, que havia ficado para trás na conexão em Johannesburgo (não há limites para meu azar com malas em viagens) e o carrega-mala, um senhor chamado Rui, me perguntou se era verdade que Lula ficaria para um terceiro mandato (ele já sabia que nosso presidente havia sido eleito e reeleito). Respondi que o rumor existe, mas que é negado pelo governo e que me parece pouco provável. Ele ficou inconsolável:
“Mas por que não? Seria muito bom para o Brasil e para o mundo”.
E emendou num discurso de fazer inveja aos lulistas mais roxos. “O Lula é um grande presidente, ele abriu o país, conseguiu colocar o Brasil no mundo”.
E ainda: “Ele é de esquerda, não é”? Respondi que sim, teoricamente pelo menos. “Pois se ele ficasse mostraria que a esquerda é que está com a razão!”, disse o comentarista político aeroportuário.
A seu lado, uma senhora que fez a alfândega da minha mala dava sorrisos de aprovação, lamentando apenas que teria que ficar trabalhando até as 4h da manhã, o horário marcado da chegada do avião presidencial, vindo da Índia.
Antônio, um dos taxistas que me carregaram para cima e para baixo ontem, sabia que Lula chegaria pela manhã, que passaria 36 horas no país e que entregaria uma fábrica de remédios anti-retrovirais (na verdade, um escritório da Fiocruz). Nosso presidente emplacou a manchete de ontem de um dos principais jornais moçambicanos, “O País”.
Por que tanta expectativa com nosso presidente? Primeiro porque ele sempre traz um pacote de bondades (além da Fiocruz, inaugura um projeto do Sesi). Segundo, porque sua figura barbuda realmente hoje é conhecida na África (pelo menos a de língua portuguesa). E terceiro, creio, porque é da cultura política do africano agarrar-se a um líder forte e protetor. Vem daí o espanto do senhor do aeroporto: se ele é tão bom para nós, porque não fica mais um mandato? É a lógica peculiar de um continente em que é comum um presidente passar 20 anos no poder.
por Fábio Zanini.
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